Quem nunca ouviu essa frase não teve mãe, avó ou mulher na vida. Afinal, somos as responsáveis por dizer essas palavrinhas tão temidas pela raça que simplesmente não sabe procurar nada. Mesmo. Nada.

homem-procurando-1Me lembrei disso hoje pois estava no ponto de ônibus enquanto uma mulher gritava ao celular com quem – imagino – deveria ser o seu filho. Descrevia em detalhes onde estava o tal documento e o danado, do outro lado da linha, parecia estar mais perdido do que cego em tiroteio. Porque a mulher, quando guarda algo, sabe exatamente onde aquilo está. Com riqueza de detalhes, afinal, foi ela que guardou:

– Tá do lado da caixinha rosa, perto do abajur nude.

Já começa a ferrar aí. O homem distingue quatro cores e três tons: Verde, azul, amarelo, verde, preto, branco e cinza. Ponto. Começou o degradê eles se perdem. Mesmo. Tenho dois filhos em casa e sei como funciona.

– Achou?

– Não, mãe, não tem nada aqui!

– Claro que tem! Abre a caixa, né?

Outra falha na  percepção masculina. Eles se prendem a superfície. Abrir coisas, arredar outras, mexer não é com eles. Em nenhum nível. Já viu homem gostar de conversar sobre relacionamento? Pois é. Eles preferem ficar na beirada do que mergulhar. É só observar quando eles abrem a geladeira. Não sabem o que querem,mas esperam achar algo diferente. Olham para a frente, mas não sabem o que tem na porta da geladeira. Sutileza? É coisa de mulher.

– Não achei.

– Você tirou tudo da caixa???

– Ah, tá…

Mulher, ao contrário, mexe demais. Em tudo. Adoramos fuçar o Facebook do namorado, imaginar coisas, perguntar o que ele pensa, acha, imagina. O silêncio nos corrói, a dúvida mata e a imaginação voa. Homem calado tá pensando na outra, vaidoso demais tá se arrumando pra outra, feliz então…

– Achei!

– Ótimo. Agora liga para o número que tá ai e olha o que precisa para fazer a inscrição.

– Não tô vendo número nenhum…

Tem isso, né? Somos inseguras talvez porque não recebemos a atenção que a gente quer. Como nos atemos à detalhes que não significam tanto para os homens, datas como dia dos namorados, aniversário de namoro, aniversário da namorada passam meio despercebidos, enquanto imaginamos cenas de filme, com chuvas de pétalas e jantares românticos…

– Do lado esquerdo, em cima. Olha direito, tá aí sim!

– É um tal de 3223…

– Isso, liga lá!

– Agora?

Somos imediatistas. Mulher gosta das coisas prontas quando ela fala. Parece que o mundo vai acabar no minuto seguinte e tudo tem que estar em ordem porque senão vai dar merda. O homem já imagina o mundo como um eterno prazo e, na hora que ele não tiver nada melhor para fazer – o que inclui jogar futebol com os amigos, assistir futebol, tomar cerveja com os amigos, tomar cerveja vendo futebol – ele vai fazer o que a mulher pediu. Em um ou dois meses, na média.

– Não, amanhã! Claro que é agora, resolve de uma vez!

– Tá bom, vou ver…

Esse “vou ver” significa que “nem fudendo eu vou fazer isso porque você vai resolver mesmo” e isso invariavelmente acaba acontecendo. Mães, avós, esposas, namoradas têm a mania de pegar as rédeas da própria vida e de tudo que está por perto para dar um jeito. Não sei de onde vem essa mania boba de se matar pelo outro e depois reclamar que tem que fazer tudo. Que tal deixar o outro arcar com as consequências dos seus erros? Delegar é um dom, sabia?

– Vou ver, não. É agora.

– Tá bom.

E desliga. De saco cheio de tanta pressão, provavelmente o próximo ato da figura vai ser ligar a TV ou o vídeo game e se jogar no sofá. Adolescentes parecem ter um dom para passar horas sem fazer nada. Homens dito adultos não perdem muito essa mania quando estão em casa. E o que nos resta a fazer? Estressar, ganhar rugas, resolver do nosso jeito? Nada. Deixa um pouco pra lá. Releve, sublime, ignore. Crescer é para os fortes e tem hora que temos que dar um susto. Pode ser melhor e dá mais resultado do que o famoso:

– Se eu for aí…