Apesar dos avanços, mulheres jovens e de classes mais baixas continuam tendo pouco acesso a essas opções

Previsto em leis que envolvem trata dos internacionais de direitos humanos, o direito reprodutivo é um conjunto de ações que auxiliam uma família a programar a chegada dos filhos e, portanto, a prevenir uma gravidez não planejada. Apesar dos avanços nas últimas décadas, ainda são necessários esforços significativos para tornar universal o acesso a informações, serviços e, especialmente, aos métodos contraceptivos que assegurem plenamente os direitos sexuais e reprodutivos das brasileiras.

“Quando uma mulher decide sobre o melhor momento de engravidar ou não, ela se apropria do seu corpo, alimenta sua autoestima e tem condições de seguir com seus projetos de vida. Uma gravidez inesperada na adolescência, por exemplo, tem impactos sociais devastadores: a menina sai da escola, fica menos capacitada e com menos chance de ser inserida no mercado de trabalho, mais dependente do parceiro e mais suscetível às situações de violência doméstica. E isso não é muito diferente quando falamos de mulheres adultas” – avalia a Dr.Ana Derraik, médica ginecologista, diretora geral do Hospital da Mulher Heloneida Studart (RJ) e diretora médica da ONG Nosso Instituto.

No Brasil, 32,2% das mulheres em idade reprodutiva não utilizam qualquer método contraceptivo, segundo a última edição dos Cadernos de Atenção Básica: saúde sexual e saúde reprodutiva do Ministério da Saúde [i]. Além da falta de acesso, os anticoncepcionais disponíveis e oferecidos com maior frequência são aqueles que apresentam maiores taxas de falha na prevenção da gravidez não planejada – 6%, 9% e 18% para injetáveis trimestrais, pílulas e preservativos, respectivamente [ii] -, devido principalmente à baixa adesão, à descontinuidade e ao uso incorreto.

“Esse cenário aponta para a necessidade urgente de ampliação do acesso a métodos reversíveis de longa ação. Os LARCs (sigla em inglês para ) destacam-se por apresentarem baixas taxas de falha, já que sua eficácia não depende da lembrança da usuária” – explica a médica. Dentre os métodos oferecidos pelo SUS, somente um é classificado como LARC, o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre. Os demais métodos ou são cirúrgicos
e irreversíveis (laqueadura e vasectomia) ou são métodos de curta ação (pílula combinada, pílula de progesterona, injetável trimestral) que dependem da disciplina da usuária para que sejam eficazes.