Há algum tempo venho falando sobre como os relacionamentos mudaram. Muito. Mesmo. Como em um círculo de valores e vontades, estamos ainda no ir e vir de tentativas tacanhas no afã de ser feliz. E entre verdades e desejos, começamos tudo de novo!

holding Sou do tempo que ficar era coisa de menina fácil, transar te marcava para sempre como aquela que ninguém ia querer para casar, lingerie vermelha era coisa de puta e gozar era quase impossível. Acho que dava até medo gostar do que tanta gente falava estar errado. Era tanta culpa, tanta pressão que tinha pesadelos e parei de usar roupa branca depois de perder a virgindade. Como se fosse impura. E como se tanto limite segurasse os meus hormônios!

Mas era também a época boa dos bailinhos, quando podíamos perceber algumas qualidades nos pretendentes – menina levava os salgados e os meninos os refrigerantes, lembra? – e a única forma de comunicação era o telefone preto que ficava no corredor da casa e namorar precisava de permissão. E ainda tinha hora para chegar, irmão vigiando e pai apagando a luz da varando dando o sinal de game over.

E dessa maneira, nos encantávamos pela pessoa antes de saber se ia ou não dar certo. Como toda a comunicação acontecia depois da aproximação, ficávamos de longe, só apreciando…Imaginando o momento que o tal ia chegar – sem tropeçar ou gaguejar – e rezando para responder às expectativas.

Me lembro de um tal Augusto do Marconi que era a coisa mais linda dessa vida. Pelo menos até os meus 15 anos,era. Ele nunca me deu bola – já disse aqui que era O patinho feio, né? – mas eu suspirava fundo toda vez que ele passava por mim. Seus cabelos pretos, sua calça jeans larguinha, seu corpo todo magrinho e definido…Ai!

Não sabia se era inteligente, bacana, educado. Não tinha ideia dos seus gostos musicais, se preferia Stones à Beatles, se iria curtir ver os filmes do Stallone no Cine Brasil, se ia me mandar flores, andar de mãos dadas ou se tinha ou não namorada. Simplesmente me apaixonava pela imagem dele, calada. Ou me beijando,em sonho!

Mas hoje, com toda essa virtualização dos relacionamentos, estamos fazendo o caminho inverso. Claro que ainda somos movidos pela beleza e boa imagem, mas perdemos muito mais tempo tentando perceber afinidades intelectuais  e sentimentais antes mesmo de sentir o cheiro, o hálito do beijo, o calor do outro corpo.

Trocamos frases filosóficas, nos arriscamos em poemas bobos, citamos grandes autores, lamentamos experiências passadas. Se a conversa é boa, nos alongamos em gostos musicas, a loucura por cinema, a nova dieta, filhos…Trocamos receitas e rótulos de vinhos e cervejas. De repente, algumas horas se passaram e a conversa parece pedir mais.

E é nessa hora que percebo que ser uma menina da época em que ainda tínhamos que estar atenta à nossa reputação é bom. Aprendi a ter cautela. Os homens ainda se assustam quando tomamos a iniciativa. Nem adianta falar que não. Isso é comprovado cientificamente pelos meus experimentos empíricos. Dou a deixa e espero. Ele entra com a fala principal:

– Como faço para te conhecer?

Sim, meninas, isso é ainda papel do homem. Não se iludam. Eles não saíram da fase em que julgavam as meninas do colégio pela quantidade de meninos que elas beijavam, se já transavam ou não, se usavam lingerie vermelha ou branquinha. Somos divididas –  ainda  – em meninas para casar ou não. Simples assim.

A gente pode até sugerir o lugar, mas nunca escolher o vinho. Escolher a mesa, mas sempre esperar ele dar o lugar. Dividir a conta, mas entrar no carro quando ele abrir a porta. E quando chegar a hora da despedida, beije com vontade. Mas não abra todos os botões da blusa, não escancare a alma, não se exponha demais. Se for realmente bom, vai ter bis. E teremos todo tempo do mundo para muito mais!

OBS: Esse texto não é machista e nem feminista, é apenas uma maneira de mostrar o que sinto e vejo. Adoro ser uma mulher independente, mas valorizo um homem que seja mais homem do que eu.