Conheci o pessoal do Lá da Favelinha em um evento de Economia Criativa e me apaixonei pela iniciativa, pelas cores e ousadia que eles produzem. E como o Dicas é a casa da novidade, convidei o idealizador dessa delícia para falar um pouco sobre força de vontade, moda e alegria. Descubram o músico e fundador do projeto, Kdu dos Anjos!
Kdu, o que é o “Lá da Favelinha”?
Sediada na Vila Novo São Lucas, uma das oito vilas que formam o aglomerado da Serra, na zona Sul de Belo Horizonte, o projeto é uma iniciativa que tem promovido a autoestima e criado oportunidades para a população da Favelinha, maneira como é conhecida uma das ruas da vila, cortada por diversos becos e habitada por cerca de 5.000 moradores.
Eu estava cansado de ver o aglomerado ser manchete nas páginas policiais e percebi que era preciso fazer algo. O Lá da Favelinha existe para gerar qualidade de vida e oportunidades para os moradores da comunidade. Por meio de oficinas diversas como de rap, artesanato, línguas estrangeiras e danças urbanas, procuramos incentivar a autoestima e ampliar as possibilidades de futuro para as pessoas que passam por aqui.
O projeto foi criado em setembro de 2014 como biblioteca e oficina de rap. O número de atividades vem se expandindo desde janeiro de 2015, quando foi realizado o primeiro Rap da Favelinha. Atualmente, a ação oferece 16 oficinas, como as de canto, violão, inglês, espanhol, capoeira e acroyoga (um tipo de yoga acrobática), ministradas por voluntários, moradores do aglomerado e de outros bairros da capital.
Além disso, o projeto realiza eventos dentro e fora da comunidade. Um deles é a Disputa Nervosa, uma batalha de passinho que tem movimentado a cena cultural da cidade; o Favelinha Fashion Week, desfile de moda realizado pelas pessoas do aglomerado, com roupas produzidas ou customizadas pelo grupo; e eventos comemorativos de datas tradicionais do calendário brasileiro, como o Arraiá da Favelinha e o Carnafavelinha.
Me apaixonei pela ideia do Favelinha Fashion Week. Conta tudo!
O Favelinha Fashion Week tem movimentado o mundo da moda em Belo Horizonte. A ideia é promover grupos culturais, marcas independentes, a economia local e a sustentabilidade. E ao fazer moda de uma forma divertida e inovadora, os desfiles resultam em editoriais incríveis e revelam modelos de todas as idades, tamanhos e aparências, que moram no Aglomerado da Serra.
Como tudo começou?
Em janeiro de 2017 fizemos um desfile no beco passarela na Vila Cafezal. A identificação foi tão grande que o sucesso foi imediato.
Como é a relação da comunidade com o projeto?
É visível o respeito da comunidade pelas ações do projeto, reconhecendo a necessidade e a importância do espaço. O próprio tráfico respeita e não influencia em nossas atividades. Já para a manutenção do projeto, são promovidos eventos culturais, que além de promoverem a recreação, ajudam a arrecadar verba, como o Sarau, o Arraial e o Rap da Favelinha.
Para fortalecer os negócios locais, a iniciativa promove o Fica Rika Favelinha, reunindo os empreendedores da vila de diversos ramos, como culinária, salão de beleza e comércio. Na ocasião, realiza-se um intercâmbio de experiências e estratégias de gestão. A iniciativa busca fortalecer o empreendedorismo local a partir do compartilhamento de desafios e soluções vivenciados pelos moradores nos negócios.
Hoje, aproximadamente 80 pessoas passam semanalmente pela sede do Lá da Favelinha, de crianças de 8 anos que querem aprender inglês, às pessoas da terceira idade que frequentam as aulas de acroyoga, muita gente da comunidade é beneficiada pelo projeto, seja de maneira direta ou indireta.
Um dos desafios tem sido o financiamento do centro cultural. Ainda que as oficinas sejam resultantes de trabalho de voluntários, o espaço conta com despesas fixas para manter as portas abertas. Por isso, foi criado um sistema permanente de captação coletiva de verbas, por meio do qual as pessoas podem doar quantias mensais para o projeto.
Mas quero mais! Além da expansão do espaço físico, desejo que mais oportunidades sejam geradas dentro e fora da Favelinha, desfazendo o estigma que o morador da periferia é condenado a subempregos e modificando a perspectiva de vida das pessoas”, explica.
As pessoas que tiverem interesse em conhecer ou ajudar o projeto, podem entrar em contato ou acompanhar todas as suas atividades através da pagina no Facebook. Estamos também com uma exposição no MUMO – Museu da Moda de Belo Horizonte na Rua da Bahia, 1149 – Centro, Belo Horizonte -até dia 29 de julho. Vale a pena conferir!