A menopausa é um marco fisiológico e psicológico do processo de envelhecimento feminino que afeta seu interior e exterior. As mudanças decorrentes desse período e a queda na produção do hormônio estrogênio trazem transformações também para os cabelos. Os fios passam por alterações que poderão fragilizá-los, tornando-os quebradiços, mudando sua textura e o nível de oleosidade.  Eles também perdem até 30% da saúde durante período da menopausa e ficam mais sujeitos à quebra. Para falar sobre esses efeitos e os cuidados necessários para a mulher recuperar a auto estima, fiz uma entrevista deliciosa com Ramiro Cerqueira. Confira!

ramiro 2 Segundo Ramiro, algumas mulheres não percebem que estão entrando na menopausa. Alguns fatores são determinantes, como a idade da primeira menstruação e a idade atual da mulher. Ela não interfere só no cabelo, mas em todo comportamento estético. Até o próprio modo de vestir é alterado, com pouco de desleixo, devido às ondas do calor. Ela vai prezar mais pelo conforto do que pelo estilo e essa desorientação interfere em tudo.

Então, na verdade, a menopausa  interfere no comportamento e também no estilo?

Como disse, ela muda o mundo da mulher. São tantas alterações que o termo “ficar desorientada” mostra mesmo uma falta de orientação. Muito pouco é falado, as mulheres não conversam isso de mãe para filha e até nos consultórios isso é tabu. E entrar na menopausa é meio que ficar velha, e em uma sociedade como a nossa, isso mostra uma mulher murchando, perdendo espaço, se sentindo sem lugar, sem utilidade.

Sem dúvida. A busca pela beleza e juventude são constantes na vida da mulher e isso é abalado durante esse período.

Muito! E alguns desses dilemas são tratados na cadeira do cabeleireiro, que é onde a mulher se solta. Quanto temos mais contato, conseguimos perceber a questão de idade. Começa já com 40, 42 e não sei se tem a ver com alimentação, stress, agrotóxicos. Tudo interfere. E falamos de todo um contexto, pois a mulher, antigamente, entrava com muito mais força na menopausa. Hoje existem várias maneiras de amenizar esses problemas. Por isso aconselhamos sempre um acompanhamento de vários profissionais.

Vamos falar da estética. Como ela é percebida?

Além do comportamento, que reflete nessa perda do estilo devido às mudanças de humor e calor, temos a questão de pele e cabelo.Imagine uma mulher, na idade da loba, cheia de vigor e energia, de repente percebe que o cabelo começa a ficar quebradiço. Isso também afeta muito a auto estima, pois o cabelo é fundamental na feminilidade da mulher.

E aí começam os fios brancos, que desencadeia outros processos estético que incluem processos químicos também.  Tudo isso altera a natureza do cabelo. O  fio branco é como uma ruga do cabelo. Na pele, aparecem as rugas, pela falta de colágeno e água,  o que resseca a aparência. Já os cabelos são constituídos de escamas. Dependendo da sua natureza, quando envelhece, ele perde as propriedades naturais, como a cor, textura. oleosidade.. Ele fica mais claro, pode anelar, muda, “enruga”.

O meu mudou muito durante a gestação. Caiu demais depois que ganhei meus filhos.

Isso também acontece na gestação. Todo corpo muda para criar uma criança e os cabelo fica mais forte, a pele fica boa e tudo conspira. Depois que o bebê nasce, os hormônios “entram de férias” e tudo muda de novo. Pele resseca, cabelo cai,  e passamos por mais um período de transformação. Ou seja, os processos de mudanças nas mulheres acontecem muito antes da menopausa. Até a pessoa se reorganizar gera muita insegurança e baixa auto estima. Durante o  pós parto também é bom procurar um médico para repor vitaminas, olhar casos até mesmo de depressão e um cabeleireiro para cuidar do bulbo ate as pontas dos cabelos.

Então, estamos sempre em mutação?

Sim! E esse cabelo que já esta em mutação  pode ter ainda outros agravantes durante a menopausa. Cuidar da alimentação, fazer exercícios, acelerar metabolismo, tudo interfere no cabelo e pele. Quando a gente está correndo, percebemos que ficamos mais vermelhos, tudo fica irrigado devido ao sangue que percorre todo o corpo. A menopausa  acontece como algo que interrompe um pouco esse fluxo e o cabelo e a pele sofrem mais. Por isso é importante manter uma rotina diária de cuidados. E é ai que percebemos claramente um processo de decadência. Mas não é definitivo. Muitas mulheres se tratam e passam pelo processo com mais força. Mas o cabelo não volta ao normal. Ele é um tecido morto, desenvolve dentro do bulbo, com o sangue. O cabelo é um termômetro do organismo: se ele está bem, reflete saúde. Se as pontas estão ruins, deve ter acontecido algum fato anterior que aparece muito tempo depois.

Então, o cabelo que vemos hoje é resultado de processos anteriores?

Sim, afinal, a gente é o que a gente come. E o que temos de cuidado. Tudo que está acumulado no nosso organismo é mostrado na pele e no cabelo. Podemos perceber desde a raiz ate as pontas o que aconteceu em um cabelo nos últimos meses praticamente, como uma cartomante. Uma anestesia, cirurgias, intervenções também podem mudar o cabelo. Regimes e dietas muito rigorosas tiram os nutrientes que o cabelo precisa para se formar.

E como é uma dieta boa para o cabelo?

Uma dieta boa para o cabelo deve conter ferro. Ele é muito importante, pois a mulher perde muito ferro na menstruação e a falta desse elemento interfere muito no cabelo. Sais minerais, nutrientes, vitaminas. E essencial um acompanhamento de nutricionista, dermatologista, ginecologista para fazer o pacote completo. Dizem que temos que ter  cinco cores no prato, o que supre tudo que precisamos. E outra: a carne não é vilã, pois tem proteínas essenciais. Ela, quando restringida, tem que ser substituída por outra fonte de igual valor nutricional.

Temos então o antes, durante e depois. A mulher já passou por processos de mudanças e chega na menopausa. Como ela reage?

A mulher tem uma baixa de auto estima na época, pois deixa de menstruar, de produzir, fica se sentindo inútil. Surgem questões de stress, insegurança, e como a estética e muito importante, esses fatores ainda interferem mais. As mulheres são muito cobradas e tudo que interfere nesses papéis que a sociedade lhe impõe de ser mãe, feminina e atraente causam problemas.

Falamos muito da mulher, mas o homem tem um processo semelhante. Como ele lida com a andropausa e como você percebe isso no salão?

Eles praticamente nem sente, não falam. acredito que seja mais tabu ainda. Mas também não tem tantos hormônios trabalhando ali. Normalmente os homens já não falam muito das suas questões, e a andropausa é um desses assuntos.

Mas ela tem consequências?

Claro! O cabelo pode começar mudar, alguns pontos de calvície também podem aparecer. A dica é massagear o couro cabeludo, o que ajuda a estimular a circulação do sangue, tanto no homem como na mulher. Se o cabelo começar a afinar, isso mostra que está acontecendo uma mudança e ele pode começar a rarear. Mas xxistem vários remédios para a calvície, tanto de uso oral como local. A grande questão é encarar. Afinal, aos homens já foi dado o direito à vaidade na parte estética, agora ele tem que   tem que o mesmo cuidado que as mulheres tem com a sáude, por exemplo. Um outro tabu é o câncer de próstata, que os homens não falam e ainda protelam os exames.

A calvície também pode acontecer na mulher durante a menopausa?

Pode e é ainda pior. Nas mulheres pode acontecer a alopércia androgenética, uma calvície feminina que acontece na menopausa. Ela é pior porque, enquanto nos homens a calvície acontece de maneira localizada, na mulher ela é generalizada. Além disso, os homens encaram melhor a calvície, da mesma forma que não se importam tanto com a barriguinha de chope. Mas nenhum defeito é perdoado  na mulher,  e ainda temos toda uma cultura de que o cabelo está diretamente ligado a beleza e ao feminino.

Como ela pode superar isso?

Superando preconceitos. Quando estive na África, por exemplo, vi que muitas mulheres usam prótese capilar,  como também nos Estados Unidos. Claro que é aceito culturalmente, o que não é comum aqui. Mas o que percebo é que o preconceito deve ser tirado primeiro do homem. Observe que um homem que usa peruca não causa espanto, enquanto uma mulher que usa esse artifício é menos aceita pelo homem.  Temos que mudar é a mentalidade das pessoas!

Interessante entramos no assunto da feminilidade e de todos esses símbolos. Eu, como madrinha da campanha contra o câncer de mama, convivi com muitas mulheres que tiveram que tirar os seios e acredito que esse também é um outro grande símbolo do feminino, junto com os cabelos que também são perdidos. E o que eu percebi de mais importante foi a aceitação do companheiro nesse momento de fragilidade da mulher.

É uma outra questão muito importante, sem dúvida. Na questão do seio, também um símbolo de feminilidade, as mulheres que não os tem podem perder também essa força. A aceitação do outro é muito importante. Mas falamos também de um novo tempo, né Carol?  Antes, a mulher queria ficar mais masculina, ter os mesmos direitos e ocupações. Hoje, ela esta além. Cuida da casa, do filho, da faculdade, do emprego, consegue ser mulher e ser feminina. Quando quer ser feminina e charmosa, ela arrasa. E esses símbolos acabam perdendo a importância. Ela pode ser feminina de cabelos curtos,  com um lenço escondendo uma perda por motivos vários, pode encarar a falta do seio e valorizar outras partes do corpo…

Verdade…Estamos mais aptas a superar perdas.

Já o homem, se você tira dele o posto de provedor, não sobra nada.  Rs…Devemos deixar ele trocar a lâmpada, cuidar da mulher, fazer o papel que ele sabe fazer melhor. As mulheres são muito mais fortes! Mas sem nunca perder a feminilidade.

Essa questão do feminino e da vaidade andam muito próximos e os últimos casos de excessos, como as mulheres que morreram em tratamentos com o tal Dr. Bumbum mostram muito isso. Uma coisa é colocar uma prótese porque teve o seio retirado por uma doença. Outra, bem diferente. é a busca irracional pela perfeição. O que você acha disso?

Essa questão  do exagero, de querer mudar sempre, e a seriedade de perceber a medicina, procurar e avaliar bons e maus médicos é realmente delicada; Antes de pensar na mudança, talvez uma maneira de se ver e se respeitar mais pode ser o caminho. Academia e processos menos invasivos deveriam ser sempre a primeira opção, nunca a plástica.

Talvez uma terapia faça mais efeito do que uma plástica em alguns casos, né?

Verdade. Temos que ter respeito pelo outro, por si mesmo. e não cobrar do outro algo que não é dele. Se a estética não está bem cuidada, a mulher é cobrada por isso. Parece que todas tem que ser louras, magras e felizes. E isso não existe! Em um país tropical, em crise, como ser perfeita? E o que é ser pefeito? Não podemos mostrar o que  verdadeiramente somos. Com essa pressão toda, qualquer problema é agravado em uma mudança hormonal, uma queda de cabelo, a própria menopausa…

Qual é, então, o caminho?

Acredito que as pessoas devem se avaliar e se gostar para melhorar o que já tem de bonito. Para quem pode, um personal, cabeleireiro, nutricionista. Se não, temos muito recursos gratuitos na internet, como aplicativos e vídeos sobre alimentação saudável, exercícios e até consultoria de imagem. Saúde e auto estima são fundamentais.  Cuide da sua estrutura orgânica, tenha tempo para conviver em seu meio social, cultive nobres valores,  exercite o respeito. Estética não e só aparência. Ela é muito mais complexa. Só aqui falamos de make, roupa, saude, trabalho, alegria, relacionamento…

Por falar em make, como começou a maquiagem?

Muito antes do que imaginamos. Na idade das cavernas, a maquiagem tinha vários simbolismos, como a tintura para a guerra. Quanto mais agressiva, mais receio ela causava aos oponentes. Os nossos índios são um ótimo exemplo, eles se pintam para tudo, desde uma comemoração até uma luta.

Interessante que até hoje esse simbolismo é óbvio. Uma mulher com batom  vermelho quer dizer uma coisa, outra com um nude, por exemplo, você já tem outra impressão.

Carol, é isso mesmo! E isso é mágico! Afinal, damos sinais o tempo todo. E o que concluímos com toda essa conversa é que, no fim, tudo pode. Você pode ter cabelo colorido ou ser calvo, homem ou mulher, usar peruca ou uma tatuagem se conseguir segurar aquela opção. Mulher não tem que usar sempre maquiagem, homem pode sim se maquiar, tudo é permitido dentro de um contexto, da sua coragem e postura. Somos fonte de expressões várias, somos múltiplos e repletos de emoções. O que não pode faltar nunca é respeito e alegria. Para sermos o que quisermos!

Gostou? Eu adorei!

Ramiro Cerqueira é cabeleireiro e dono do OfficeHair. Ele é não só muito habilidoso com as tesouras, mas um estudioso dos cabelos e abraça várias causas que tem tudo a ver com a saúde e a auto estima das mulheres. Parabéns!