A pandemia permitirá que nos demos conta de que temos roupas demais – talvez a metade de nossos armários poderia ser esvaziada. Já deu uma olhada no seu?

Isso seria muito bom, pois além de podermos gastar nosso dinheiro com coisas mais úteis, vale a pena lembrar que a indústria têxtil é uma ameaça: ela gera 10% de toda a poluição do meio ambiente, sendo responsável pela emissão de 1,7 bilhões de toneladas de CO2 a cada ano.

Estima-se que a produção de roupas tenha subido de cerca de 6 quilos por pessoa para 13 quilos, nos últimos 45 anos. Estamos saindo de 62 milhões de toneladas por ano para 102 milhões em 2030.

 

Outros números nos informam que na atualidade uma peça de roupa é usada 36% menos do que era há quinze anos, não só por mudanças na moda, mas também por ser, em geral, de pior qualidade. Nos Estados Unidos cada consumidor compra uma peça de roupa a cada cinco dias e meio – quase 66 peças ao ano. Na Inglaterra, cada pessoa adquire em média 27 quilos de roupa ao ano.

Há um problema adicional: roupa velha não se recicla: apenas 1% do material é reaproveitado. A indústria têxtil gera 92 milhões de toneladas de resíduos ao ano, boa parte dos quais são enterrados ou queimados, gerando gases tóxicos. A União Europeia estabeleceu as primeiras regras acerca do assunto, ainda tímidas, que devem entrar em vigor apenas em 2025.

No entanto, é difícil convencer o consumidor a controlar seus impulsos de compra, o que evidentemente não interessa às empresas do setor, que jogam com isso. A solução é uma só: conscientizar as pessoas.

*Vivaldo José Breternitz é doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, professor de Planejamento Estratégico e Sistemas Integrados de Gestão da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.