Nossa singela homenagem a Tomie Ohtake,”dama das artes plásticas” , japonesa que se tornou brasileira com o tempo e uma das figuras mais importantes das artes plásticas no Brasil e no mundo.Uma grande perda para todos que ousam sonhar e fazer mais.

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“O trabalho faz bem sempre”

Tomie Ohtake nasceu em 1913, em Kioto, no Japão. Veio para o Brasil em 1936, aos 23 anos, para visitar um irmão que já morava aqui, e acabou ficando. A japonesa se impressionou “com a intensidade da luz amarela, do calor e da umidade ao desembarcar no Porto de Santos”, conta a biografia do site do Instituto Tomie Ohtake.

“Com a iminência da Segunda Guerra, permanece em São Paulo, onde se casa e tem dois filhos, Ruy e Ricardo Ohtake. Estabeleceu residência no bairro da Mooca”, informa o texto.

O interesse por desenho vinha desde criança, na escola no Japão, onde o ensino de artes é muito valorizado. Mas antes de ser artista, formou família e criou os dois filhos. Só aos 39 anos começou a fazer suas primeiras pinturas. Foi incentivada pelo pintor japonês Keisuke Sugano, que deu aulas de passagem pelo Brasil.

“Quando comecei a pintar aqui no Brasil, já era muito evidente o meu espírito brasileiro, ou ocidental, portanto já distante da origem oriental, mas devo ter tido sempre, até hoje, influência da terra em que nasci e cresci”, lembrou Ohtake à revista “ArtNexus”, em 2005.

Em 1968 ela se naturalizou brasileira, já envolvida e reconhecida na cena artística nacional. Com os trabalhos feitos em cada vez maior escala, às vezes ela tinha que sair de casa, na Mooca, onde ficava seu ateliê, para ver suas pinturas maiores.

Em 1969, junto com outros artistas, ela se recusou a participar da 10º Bienal Internacional de São Paulo, em protesto contra a Ditadura Militar. Em 1974 recebeu o prêmio de melhor pintora do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte – voltou a ganhar o mesmo título em 1979, entre outras dezenas de prêmios antes e depois.

Nos anos 1980, cresceu ainda mais o interesse por sua obra. Foi marcante a grande retrospectiva feita em 1983 pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp), um sucesso de público e crítica. Com o reconhecimento, nesta década ela começa a realizar várias das esculturas expostas em espaços abertos de nossas capitais, marcadas pelas formas arredondadas e a grande escala.

“A obra que fica situada no espaço público tem necessariamente que conversar com o espaço e com o público. Isso é fundamental para um painel, uma escultura ou outro trabalho que não as tradicionais pinturas ou obras em outras dimensões. Você me pergunta como concebo o espaço. Ora, olhando o espaço e perguntando como o público vai interagir com a obra: quais as perspectivas, o que há na frente, atrás, dos lados, a que distância as pessoas vão ver e até onde se aproximam, por onde passa o olho, etc”, disse Tomie Ohtake em 2005 à revista “ArtNexus”.

Em 2000 foi criado o Instituto Tomie Ohtake, com sede em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. O objetivo é apresentar e discutir a história e as tendências das artes no Brasil – não apenas a obra de Ohtake. Mas ela não se fechou no instituto. Uma escultura de 15 toneladas e 12 metros de altura, inaugurada em 2013 em Santo André (SP), pela artista já centenária, é só mais um dos exemplos do inconfundível e incansável trabalho de Tomie Ohtake.

ES

Fonte: Site G1