Belo Horizonte tem neste sábado a 3ª edição do Circuito 10 Contemporâneo
Dez galerias apresentam programação especial para debater e promover o mercado de arte.

JOSE LUIZpor Walter Felix
José Luiz Pederneiras/divulgação

Dez galerias, 10 exposições e infinitas possibilidades. É o que propõe o Circuito 10 Contemporâneo, ação que conecta algumas das maiores casas dedicadas às artes visuais da cidade com objetivos em comum: promover debates sobre o mercado, ampliar o público e estimular profissionais da área. Realizado pela primeira vez no ano passado, a iniciativa chega hoje à sua terceira edição.

As galerias AM, Beatriz Abi-Acl, Celma Albuquerque, Dotart, Lemos de Sá, Manoel Macedo, Murilo Castro, Orlando Lemos, Quadrum e Studio Cícero Mafra funcionam em horário ampliado neste sábado, das 11h às 18h. A proposta é que os visitantes possam transitar entre os 10 locais participantes, conferindo as atrações especiais programadas para a ocasião.

“É uma proposta muito rica por dar ao público a oportunidade de apreciar 10 projetos com propostas tão diferentes”, afirma a galerista Flávia Albuquerque, responsável pelas exposições da Celma Albuquerque Galeria de Arte. “O circuito movimenta as pessoas interessadas em arte que, por questões da vida moderna, às vezes ficam acomodadas. O projeto anima esse público e, com a divulgação conjunta, a visita a uma galeria acaba gerando um interesse pelas outras”, completa a profissional. Flávia conta ainda que duas edições do 10 Contemporâneo estão previstas para esse ano. No futuro, a iniciativa buscará abranger mais cidades.

Tatiana Blass mostra na Celma Albuquerque Galeria cerca de 20 obras inéditas na exposição Vitrine algodão: Boneco sem descanso. Para esta ocasião, a Celma Albuquerque Galeria de Arte realiza exposição individual da artista Tatiana Blass, paulista que vive em Belo Horizonte. Cerca de 20 obras inéditas incluem pinturas em guache sobre telas de algodão cru, vidro e papel. Os trabalhos dialogam com a pesquisa de Tatiana em torno do universo teatral, abordando como os atores podem ser absorvidos pelo espaço ao seu redor. Outra inspiração foi a grande vitrine transparente da galeria, que levou a artista a reflexões sobre aparência e questões sociais. Em duas intervenções, Tatiana apresenta sapatos incrustados em um piso de cimento e dois manequins de cera que se derretem com o calor do refletor que incide luz sobre eles.

TB

Completam a mostra três vídeos da série Desprofissões, criada em 2016. Em cada obra, um profissional subverte sua atividade: um lavador de carros suja o automóvel com água e barro; uma manicure passa esmalte em toda a mão de sua cliente; e um pichador passa por cima de pichações um spray com a mesma cor da parede. Os trabalhos permanecem em exposição no local até 7 de abril.

PAIXÃO E FÉ Proprietária da AM Galeria de Arte, Ângela Martins entende o 10 Contemporâneo como um projeto fundamental para o fomento das galerias em Belo Horizonte, que carecem de maiores incentivos. Ela compara a cidade com São Paulo, que desponta no cenário nacional pelos museus focados em arte contemporânea. “O paulista compra arte porque tem acesso à arte, algo que não ocorre aqui. As pessoas precisam ver arte para querer arte. O incentivo deveria ser um trabalho do governo, mas resolvemos nos unir para tentar nos fortalecer”, afirma.

O local exibe hoje uma obra de importância histórica para a cultura mineira. A parceria entre o fotógrafo José Luís Pederneiras e o músico Tavinho Moura, que deu origem a uma obra audiovisual em 1974, será retomada pela AM Galeria. Fotografias da Procissão do Senhor Morto, em Diamantina, acompanhada por trilha sonora feita sob medida, formam Paixão e fé, obra que, na época, foi exibida com duas projeções de slides que se sobrepunham.

“O trabalho foi montado no Rio de Janeiro, em Ouro Preto e nunca mais foi visto. Por mais de 40 anos, ficou guardado na coleção da Funarte”, revela Manu Grossi, curadora da exposição. Premiado, o projeto audiovisual ganhou exposição no Palácio das Artes logo após seu lançamento e acabou dando origem a outra parceria entre mineiros. Encantado, Milton Nascimento encomendou a Fernando Brant uma letra baseada no trabalho de Pederneiras e Tavinho. Assim nasceu a canção homônima, imortalizada na voz de Bituca.

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