Um relacionamento considerado abusivo, e que pode evoluir para uma agressão física, nem sempre é facilmente identificado.

As medidas de isolamento podem ter agravado essa situação, pois impuseram a permanência de muitas vítimas ao lado de agressores por longos tempos. O resultado está exposto em dados divulgados pelo relatório Violência Doméstica durante a Pandemia de Covid-19, produzido a pedido do Banco Mundial pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) com dados coletados nos órgãos de segurança dos estados brasileiros.

Nele foi revelado que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 estados do país, comparativamente ao ano passado.

A psicóloga e professora do IBMR, Melissa de Oliveira, que é doutora e mestre em Saúde Pública, com pesquisas sob o recorte da crise psicossocial e sob o viés de gênero, raça e classe; separou algumas dicas sobre como identificar um relacionamento abusivo.

Chantagem – A manipulação é uma ferramenta central no relacionamento abusivo. O abusador costuma chantagear para conseguir o que quer. Seja dizendo que vai ficar doente ou vai se matar se o parceiro não fizer o que ele quer.

Ciúme excessivo – É normal que uma pessoa sinta medo de perder aquela que ama. Mas quando isso passa a virar argumento para controlar o outro, aí já é demais.

Controle – Quando a pessoa começa a decidir o que a outra pessoa pode ou não fazer. Que roupas vestir, onde pode ir, quais atividades fazer.

Invasão de privacidade – O abusador não respeita o espaço individual da outra parte. Roubar senhas, mexer no celular, ler e-mails e mensagens. Tudo isso é invasão de privacidade.

Afastamento de outras pessoas – A pessoa se afasta tanto de outras com as justificativas de que: fulano é má influência, ciclano dá em cima de você, não gosto daquela pessoa. No fundo, o abusador que que você dependa apenas dele!

Destruição da autoestima – Sem perceber, a vítima vai perdendo a autoestima até o ponto de achar que é alguém tão ruim que nenhuma outra pessoa vai amá-la se essa relação terminar.

Melissa é autora do livro chamado “Luta Antimanicomial e Feminismo: inquietações e resistência”. Ela fala sobre o Gaslighting ou gas-lighting que é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.

Muitas mulheres vivenciam situações de gaslighting, uma prática em que homens as fazem questionar a própria sanidade, o que é uma forma de violência psicológica. E esse é o assunto da tese de doutorado da professora do IBMR.

Este tipo de atitude reforça estereótipos acerca da insegurança de mulheres e, ao classificá-las como “loucas”, reforça também a proximidade e a suposta familiaridade entre loucura e mulher. Esta relação é antiga de acordo com a professora. “Houve uma série de experimentos no campo da medicina que se voltaram às mulheres a partir de estudos dos ossos, do crânio e do sangue, que supunham uma inferioridade do corpo feminino assimilado a uma desordem mental. As questões orgânicas desse corpo foram atreladas à loucura”, explica Melissa.

A especialistas reforça ainda que se algum desses comportamentos está presente em relações afetivas, é sempre importante pedir ajuda. Em caso de agressão física, ligar para o 180, a Central de Atendimento à Mulher, que funciona todos os dias da semana, 24 horas por dia, ou procurar uma Delegacia da Mulher.

FIQUE ATENTA!