Hábitos
Luciana Sena
O textinho dessa semana vai falar de 3 hábitos difíceis de abandonar , que podem marcar uma diferença cultural entre dois povos e identificar a nossa origem.
Eu percebi como pensar em segurança é algo corriqueiro para nós, brasileiros. Eu ainda não perdi o hábito de deixar a bolsa no meu colo quando estou em um café, de não atender ao celular quando estou na rua, de atravessar a rua quando vejo alguém meio suspeito ou moto passando muito perto… A verdade é que gente vive com medo e num alerta constante, achando que sempre pode acontecer algo se a gente der “bobeira”. Afinal, se a gente for roubado, assediado e até coisa pior, a culpa é nossa! Isso não é normal, isso é uma sociedade doente!! Por isso somos meio paranoicos. Meio?
A família com quem moro viajou e eu fiquei sozinha numa casa enorme, tipo o filme “Esqueceram de mim”. Que inocência fofa, quisera eu ter a mesma! Para me “proteger” pensaram em deixar a luz da entrada acesa até voltarem (!!!) e eu respondi:
– Mas gente, bandido não é bobo não, ele vai rondar, dar plantão e se perceber que todo dia e toda noite uma só luz está acesa, vai chamar os colegas de bandidagem.
E todo mundo: Nooossa, é verdade! – Eles nunca tinham pensado nessa hipótese, fiquei chocada. E vai piorar, vocês vão ver.
Outro dia, me pediram para levar as crianças até o centro e de lá íamos passear no Jardim de Tuilleries. Achei a ideia ótima: Lá é espaçoso, eles iam se divertir! Pedi as identidades das crianças e ouvi:
– Eles não tem identidade!
– Como assim? E se alguém tenta levar um deles ou eles se perderem, como que faz???
Notei, abismada, que foi a primeira vez que eles pensaram isso na vida! Fiquei #chocadaparte2. Aí, improvisei identidades para todos no computador com foto, telefones de contato, endereço…. Antes de sair, dei aquele sermão típico (não pode falar com estranho, não é para sair de perto de mim, blá blá), os gêmeos de 3 anos não desgrudaram da minha mão e o mais velho de 7 anos ficou tão impressionado que teve até pesadelo, tadinho! Ele ficou me perguntando porque alguém roubaria uma criança. Arrependi um pouco de ter trazido isso para a realidade deles, mas o fato de estarmos aqui não significa que essas coisas não aconteçam. A sorte é que o casal é muito aberto e na volta resolvemos tomar um vinho e conversamos muito sobre essas diferenças. No dia seguinte o pai mandou plastificar a identidade que eu fiz e a gente deixa no bolso do casaco todo dia!
O que mais sinto falta no dia a dia é do abraço! Sabe quando a gente encontra um amigo, um colega e dá aquele abraço? Então, aqui não é assim! Eles dão dois beijinhos sem encostar muito e olhe lá. Mas já baguncei um pouco! Quando chego na escola para buscar os meninos, eles vem correndo e a gente dá um abração ou como eles dizem : un câlin! Adoro, é a coisinha mais fofa! Na faculdade, para despedir das minhas best friends, abracei um dia sem querer…Bem, pedi desculpa, expliquei que no Brasil é assim e que fiz por impulso. kkkkkkkk…Mas o interessante é que agora virou hábito, mas que tô ensinando a dosar: Minha amiga grega fica horas abraçada, a russa fica estática, a francesa já aprendeu direitinho e a portuguesa tira de letra, mas a “ridícula” sempre acrescenta : Luciana vem de um país quente, por isso ela abraça, vocês têm que entender ! Mas nem todo mundo entendeu. Outro dia, um colega americano, no qual dei um abraço, fez até beicinho querendo me beijar! Não aguentei e soltei na hora, morrendo de rir:
-É só um abraço! Eu hein, seu doido!
3. Atendimento
Uma salva de palmas para todos os brasileiros que trabalham com atendimento: Vocês arrasam na simpatia! Aqui tem dia que a gente tem a ligeira impressão de que está importunando o vendedor. Não é sempre, que fique claro. Eu seria injusta se reclamasse!
Mas já passei por algumas situações que quase contestei a sanidade da pessoa. Por exemplo, assim que cheguei fui checar planos para meu celular e a atendente foi meio seca, meio fria…mas depois quando viu meu passaporte mudou, foi super simpática, ensaiou umas palavrinhas em português e se desculpou. Pra quê? Em seguida, saiu contando as injustiças do contrato de trabalho, falando mal do patrão dela, aí um colega entrou na conversa defendendo o patrão, eu parada sem ser completamente atendida só acompanhando a treta. Eu só queria um plano! E isso acontece com mais frequência do que a gente imagina, esse foi um caso entre outros que já vi !
Por outro lado, tem lugar tipo Starbucks, restaurantes, museus e etc. que, sem falar nada, tudo muda. Olhando o menu, programação eu já ouço coisas do tipo:
– Oi, tudo bem? Posso ajudar? Um cafezinho? Brasil! Neymar, Ronaldinho, obrigado!
Tudo isso e mais em português. Eu passo mal de rir por dentro, mas seguro a onda para não dar muita moral!! Eis aqui um mistério: Eu calada, “fantasiada” de parisiense e me reconhecem como brasileira! Não entendo…
Como??? Não sei..mas só sei que a expressão deles muda, ficam mais alegrinhos, solícitos, simpáticos…eles gostam bastante da gente! E o mais chocante foi isso ter acontecido também no Escritório de Imigração, um órgão oficial! Na triagem, eu estava na fila junto com outros estrangeiros e ao responder o motivo da minha ida, me passaram na frente, vocês acreditam?? Lá dentro, as meninas da recepção foram ótimas, as enfermeiras fizeram piadinhas saudáveis durante a bateria de exames clínicos. Uma delas me perguntou se eu estava grávida, eu disse que achava que não e ela me deu um potinho para coletar urina, disse que saberíamos a resposta em seguida e acrescentou: mas se você estiver você quer que eu te conte, eu respondi que não e que aplicasse o mesmo método para o peso, tratasse tudo como informação confidencial, rimos muito e em seguida, já na balança, me orientou a olhar para o teto. O médico responsável foi muito leve e descontraído, adorou o meu cartão de vacinação desde quando eu era bebê e sentenciou: você está em ótimo estado e não vejo nenhum impedimento para viver na França. No final saí com meu Titre de Séjour, um sonho… Vive la France !!!
Semana que vem tem mais, bon week-end!
Bisous,
Lu Sena
Quer saber mais sobre a cidade luz? Olha esse super roteiro:
Paris em 7 dias
SIMPLESMENTE PARIS !!!! Esta sugestão de roteiro pretende levar o turista para uma viagem bem completa pelos principais monumentos e regiões de uma das cidades mais lindas do mundo! Foi elaborado com base na minha experiência, na minha paixão pela cidade e pelo idioma. Para ilustrar as situações usei os desenhos da fera Inslee Haynes entre outros artistas internacionais que desenham Paris com muita paixão e delicadeza! Como “louca” pela França, visito sempre que posso e cada viagem me encanta por uma particularidade em especial. Paris sempre tem novidade! E a cada visita, acrescento uma região francesa. O interior francês é um escândalo, mas fica para o guia Tour Gastronômico: Conhecendo a França através de sua cozinha. Paris é uma cidade que não decepciona e nos transforma. Impossível ficar indiferente, um pouco dela vem embora com a gente.
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ja pensou que toda atenção e delicadeza que recebeu pode ser somente por ser bonita???
Bom dia, tudo bem? Obrigada pelo elogio, mas não fui eu quem fez o texto, foi a Luciana Sena. Que também é muito bonita, mas parece que esse detalhe não é o mais importante por lá. Segundo ela, TODOS os brasileiros recebem esse tratamento devido a nossa fama de alegres e pela nossa cultura de samba e futebol. Obrigada por comentar, abraços.
Adorei sua crônica. Sempre tive vontade de conhecer a França. Tive a oportunidade de conhecer Paris, e adorei a quase semana que passamos por lá.
No entanto aumentou a minha expectativa de alugar um carro e viajar por todo o interior da França, quem sabe incluir Itália e Grécia. Continuo jogando na mega para realizar este sonho. Abraços.
Bom dia Carlos, tudo bem? Fico muito feliz que tenha gostado, mas os créditos são da Luciana Sena, minha professora de francês que está morando lá. Tenho certeza que ela vai ficar muito feliz com o seu comentário, grande abraço!
Olá! Gostei de tudo que vi aqui! Você ganhou mais um seguidor!
Obrigada!