Navarro mistura viagem e histórias ‘perdidas’ em ‘5Garrafas’, novo livro
Obra do jornalista e escritor mineiro, que está em pré-venda, foi escrita em 15 dias, durante a pandemia


Por RENATO LOMBARDI -Jornal O TEMPO


“Escrever é fácil, difícil é dar sentido, costurar os capítulos”, reflete o jornalista e escritor mineiro Walter Navarro. Mesmo ciente disso, ele, que nasceu em Barbacena, se propôs a encarar um desafio e, em apenas 15 dias, escreveu as 158 páginas de “5Garrafas”, terceiro livro de sua carreira literária, que será lançado em breve – a obra está em pré-venda. “Sim, foram 15 dias, mas escrevendo oito, dez horas por dia”, contou. Para além da história em si, os bastidores da escrita até a conclusão da obra guardam detalhes – como a tentativa de participar de um concurso literário – que o escritor, que foi colunista de O TEMPO por cerca de 15 anos, revelou ao Magazine.

“5Garrafas” foi escrito em outubro do ano passado, durante a pandemia. “A ideia eu já tinha; o meio e o fim vieram durante o processo. Sinceramente, eu não tinha a mínima ideia de como a história acabaria. Não tem a peça do Pirandello, ‘Seis Personagens à Procura de um Autor’? No meu caso eram seis garrafas à procura de um autor ou um autor à procura da história de seis garrafas e seis personagens”, explicou Navarro.

Na obra, o personagem principal acha, por acaso, uma garrafa de champanhe boiando numa praia da Jamaica. Dentro dela há uma carta contando que existem outras cinco, “provavelmente espalhadas pelo mundo, não necessariamente perdidas no mar”. “Com tempo e dinheiro sobrando, Rubens Heitor (este nome meio esnobe eu explico na história) sai em busca das outras ‘cinco garrafas’. Na verdade, ele busca a história delas: que fim teve cada garrafa? Claro, tudo atrelado ao destino dos amigos que compraram as seis garrafas. Uma foi parar no mar. E as outras cinco?”, comentou o escritor mineiro.

“Sempre adorei a história de Robinson Crusoé, piratas, ilhas desertas, garrafas de rum, garrafas no mar com mapas da Ilha do Tesouro”, observou. “No caso, o tesouro são as histórias das garrafas, para, depois, o personagem escrever um livro. Ele e eu conseguimos. A diferença é que o escritor viajante do livro podia viajar, eu estou isolado entre Barbacena e Belo Horizonte desde o ano passado”, completou ele.

A criação
O processo de criação de “5Garrafas” foi como o “de ‘tirar a mãe da forca’, à força”, definiu Navarro. Isso porque a ideia inicial era inscrever a obra em um concurso – por isso a correria em concluí-la em 15 dias. Mas um pequeno imprevisto atrapalhou os planos do escritor. “Como cantam os Titãs, ‘o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído’. No caso, o acaso ajudou muito. O livro já estava pronto para um concurso. Errei a inscrição digital, e ele ficou ‘boiando’. De repente, surge a Lei Aldir Blanc, e pronto”, contou ele, referindo-se ao mecanismo do governo federal que prevê auxílio financeiro ao setor cultural durante a pandemia, inclusive, por meio de editais de fomento às atividades do setor.

A ideia de escrever, segundo ele, veio após uma conversa com uma amiga virtual, “que viajou e viaja muito”. “Aconselhei-a escrever um livro sobre suas viagens. Ela disse que, se soubesse escrever como eu, já teria feito isso há muito tempo. Tomei isso como um grande e encorajador elogio”, disse. “De repente, sempre por acaso, outras amigas começaram a me enviar editais de concursos”, contou ele que, além de “5Garrafas”, escreveu outros dois livros em 2020 – um é o que ele define como “delírio da pandemia”, e o outro, um suspense. “O primeiro escrevi em 20 dias e é um pouco maior (que está na gaveta); o terceiro, um conto, um pouco menor que ‘5Garrafas’, terminei em quatro dias (inscrito em um concurso)”, revelou.

Ficção com elementos de experiências reais

A obra recém-lançada por Navarro é uma ficção, mas ele garante que há muitos elementos da vida dele e também de amigos nas 158 páginas da publicação. “Como escreveu Vinicius de Moraes no poema ‘O Dia da Criação’, é ‘impossível fugir a essa dura realidade’. Por mais que eu quisesse uma ficção, o Rubens Heitor tem muito do Walter Navarro. Mas a ficção, na literatura e no cinema, tem a vantagem da imaginação, da realização de desejos, da invenção, das viagens nas pessoas, no tempo e espaço”, afirmou o mineiro.

“Cada capítulo tem o nome de uma cidade do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos. Tem até Tóquio, no Japão, e Luanda, em Angola, onde também nunca pisei. Outras, conheço bem, como Londres, Lisboa, Rio e, principalmente, Paris, onde vivi por seis anos, em três passagens diferentes”, frisou Navarro. “Digamos que 50% vêm de experiência própria, 25% me contaram, e outros 25% de Google, YouTube, livros e filmes. Uma coisa que vai divertir ou irritar meus amigos é diferenciar realidade de ficção. Conseguindo isso, já estou satisfeito”, contou ele, empolgado.

Crônicas
Antes de “5Garrafas”, Walter Navarro já havia lançado dois livros: “O Canalha Amoroso” (2010) e “Creme e Castigo” (2012). “São coletâneas de crônicas escritas entre 1997 e 2012, a maioria delas em O TEMPO; escrevi no jornal, uma vez por semana, por cerca de 15 anos”, lembrou o escritor.

A internet também se tornou uma ferramenta para divulgar os próprios textos, estratégia que ele usou entre 2012 e 2020. “Parei no ano passado, por causa dos três novos livros”, disse. “Mas o que eu tenho de crônicas nas ‘gavetas’ do notebook daria para mais umas dez coletâneas, mesmo depois de um pente-fino. Se quero escrever outros livros? Claro!”, afirmou Navarro.

Lançamento
Walter Navarro contou que, seguindo as regras do edital financiado com recursos da Lei Aldir Blanc para que foi selecionado, o lançamento de “5Garrafas” deve acontecer em uma biblioteca pública. Entretanto, por causa da pandemia, o evento ainda não tem data para acontecer. “Enquanto isso, apelo para a pré-venda no site da editora Caravana (clique aqui). Prometo colocar dedicatória e assinar todos os livros vendidos pelo site, no dia do lançamento presencial”, assegura.

OPINIÃO DE QUEM SABE

O apanhador de garrafas no oceano de centeio. O Walter Navarro precisava de alguém famoso para apresentar seu novo livro, “8 Garrafas”. Perdão, “5Garrafas”. Claro que seu terceiro livro, primeiro romance publicado, teria um nome esquisitão, como “9 Calcinhas”. Walter não queria que um amigo apresentasse seu livro porque, mentiras sinceras não o interessam. No mais, desde quando ele tem amigos? E se os tem, eles sabem escrever? E se alfabetizados, seriam sinceros? Infelizmente precisei levar meu cachorro ao dentista e não tive tempo de ler esta maravilhosa obra. Vou esperar ser adaptada para o Cinema ou pela Netflix. Sim, não li mas, em compensação, também não gostei. Achei uma frase boa, na página 69, certamente um plágio, de Nelson Rodrigues ou Henry Miller. Francamente, podem comprar e ler de olhos fechados. A ideia até é boa. Sair pelo mundo, catando garrafas no mar. Walter deveria escrever mais, ir além das garrafas, catar também plástico e guimbas de cigarro. Ajudaria o meio ambiente. No mais, parafraseando Paulo Francis, o livro é uma merda, mas o autor é genial.

Jerônimo Taveira

BIOGRAFIA
FICHA TÉCNICA
Walter Navarro

Pequeno perfil de um cidadão comum ou apenas um rapaz latino-americano? Pouco se sabe sobre Walter Navarro. Teria sido inaugurado dia 9 de outubro de 1962. É mineiro de Barbacena, mas não exerce, porque não tem culpa. Cresceu em Campinas, São Paulo, onde progrediu na carreira militar. Chegou a cabo! Queria ser diplomata ou presidente da República, para viajar muito e pegar umas mulheres. Forças ocultas e terríveis o impediram. Por culpa da PUC/MG, acabou jornalista sem jornal e publicitário sem agência de propaganda. Morou “quase seis anos em Paris”, voltou e publicou dois livros de crônicas, sucesso absoluto de crítica e público, nos melhores sebos. Desde então vive recluso nas montanhas e no matagal, perto de algum lugar desconhecido. Ou seria confinado? Graças à Lei Aldir Blanc, esta “Rouanet para os desprevenidos”, Walter voltou à ativa e, dizem, escreveu três livros. “5Garrafas” é o segundo. Os outros vão ficar esperando Godot ou, quem sabe, a Lei João Bosco. Ah! A foto acima foi feita há exatos dez anos, num café em Paris. Foi escolhida porque espontânea, sem pose e de autoria duvidosa. É de 2011, mas Walter jura que continua bonitinho, mas ordinário e escrevendo sob o estranho pseudônimo de Jerônimo Taveira.