Para Daniela Graicar, fundadora do Movimento Aladas, esse reconhecimento aumentará a valorização das mulheres no mundo do trabalho. Mas ainda é só o começo…

A equidade de gênero é uma das bandeiras mais levantadas quando o assunto é a diversidade. E os números não mostram que isso é por acaso. De acordo com dados do IBGE, mais da metade da população brasileira é composta por mulheres. Porém, sua representatividade ainda é menor do que o público masculino no mundo dos negócios. Nas empresas, seu salário é 20% inferior ao de homens que ocupam o mesmo cargo. No empreendedorismo, cerca de 24 milhões de mulheres têm vontade de empreender, mas somente nove milhões conseguem abrir seu negócio, segundo dados do Movimento Aladas.

Para tentar mudar essa radiografia da situação no país, o Governo Federal — aproveitando o ensejo do Dia Internacional da Mulher, comemorado em março — anunciou um conjunto de ações para garantir o direito das mulheres no mercado de trabalho. Um deles foi o projeto de lei 1.085/23, que pretende garantir igualdade salarial entre homens e mulheres que exerçam a mesma função.

Para Daniela Graicar, fundadora do Aladas, o projeto de lei joga luz a uma luta antiga. “Há décadas, as mulheres buscam ter suas competências profissionais reconhecidas e equiparadas às dos homens. Esse projeto de lei, se aprovado, abrirá um novo horizonte para o alcance dessa equidade salarial, servindo não só como reconhecimento, as como estímulo para que tenhamos cada vez maior das mulheres no mundo dos negócios”.

De acordo com o documento, que ainda precisa passar pela aprovação do Senado e Câmara dos Deputados, as empresas que não cumprirem a determinação da lei serão multadas em valores que podem chegar a 10 vezes o valor do maior salário pago pela empresa. De acordo com Daniela, esse é apenas o primeiro passo.

“Falar sobre o assunto e trazer mais visibilidade é uma maneira de reconhecermos que é necessário ampliarmos a visão sobre esse tema, reconhecer a diversificar os pontos de vista no ambiente de trabalho, além de apoiarmos cada vez mais a quebra de obstáculos dessa trajetória. O caminho ainda é longo, mas estimular a conversa nos ambientes corporativos, e fora deles, é essencial para eessa busca constante de equilíbrio e progresso”, ressalta.

Segundo o estudo do Sebrae e Movimento Aladas, as mulheres estão se dedicando com mais afinco para desenvolver novas habilidades de gestão e empreendedorismo, reflexo do aumento da oferta de oportunidades de capacitação.

Para Daniela, juntamente com a criação de políticas públicas que ajudem as mulheres a terem um suporte para poderem se dedicar mais ao seu papel profissional, a equidade salarial será um salto importante, mas que deve acontecer de forma gradativa. “As empresas precisam entender o fato de que ter mulheres em seus times tão bem remuneradas quanto os homens só trará benefícios, pois incentivarão toda uma transformação na sociedade.”.

Ninguém larga a mão de ninguém

A fundadora do Aladas tem autoridade para falar sobre esse tema. Daniela abraçou o próprio caminho do empreendedorismo desde cedo e já chegou a abrir, vender e fundir cerca de 11 empresas. Nessa jornada, ela encontrou muita gente que lhe deu apoio, mas também se sentiu sozinha em muitos momentos. E a empreendedora decidiu abraçar a bandeira da equidade de gênero no mundo do trabalho.

“Quando eu olho para a minha história, tento identificar o que me faltou e como posso apoiar mulheres evitando que cometam os erros que eu cometi no passado. Errar no empreendedorismo custa caro no Brasil. No Brasil, muito mais e, para as mulheres, mais ainda”, conta.

Para ajudar as mulheres a encontrarem o seu espaço nas empresas ou no empreendedorismo, o Movimento Aladas criou o MentorEla, uma plataforma que reúne, de um lado, mais de 100 mentoras e mentores, com um vasto repertório profissional e que acreditam que apoiar alguém em sua trajetória é um legado. E do outro, mulheres que querem aprimorar sua capacidade de liderança ou tirar dúvidas sobre seus negócios, em todos os níveis, fases e verticais de atuação.

Entre os diversos tipos de conhecimento trabalhados nesses aconselhamentos está o desenvolvimento de habilidades socioemocionais — conhecidas como soft skills e cada vez mais valorizadas nas profissionais — algo que, de acordo com a pesquisa feita pelo Aladas e Sebrae, as mulheres vem se sentindo cada vez mais capacitadas nessas competências

No modelo de funcionamento, os mentores doam seu tempo e conhecimento para desatar os nós da cabeça das mulheres que lideram equipes ou comandam seu próprio negócio. “As mentoradas pagam um preço muito mais acessível do que o real valor que esses times de mentores cobram por uma mentoria”, ressalta Daniela.

Mensalmente, cerca de 80 mulheres são atendidas pela iniciativa, mas a capacidade do projeto é muito maior — pode chegar a 350 atendimentos mensais. “O empreendedorismo feminino não tem mais volta. Elas descobrem o quanto podem ser donas do seu próprio destino, estando onde quiserem, fazendo o que sonham e desempenhar vários papéis ao mesmo tempo. É uma jornada difícil, mas muito compensadora”, conclui.

Sobre o Aladas

Aladas é um movimento que nasceu em maio de 2020 para unir, encorajar e capacitar mulheres que querem empreender ou aprimorar sua capacidade de liderança e gestão. Com o objetivo de mudar estatísticas e quebrar vieses inconscientes que vêm impedindo as mulheres de performar no mundo dos negócios, o Aladas oferece uma plataforma de cursos digitais (de hard e soft skills) e conteúdos gratuitos sobre empreendedorismo em múltiplos formatos, incluindo vídeos inspiradores, podcasts e textos. Além disso, realiza encontros virtuais, treinamentos corporativos e oferece mentoria.